Once upon a time…a good wife!

Maternagem Descalça
7 min readJun 7, 2021

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Era uma vez, uma boa esposa e mãe otimista, que escrevia sobre sua maternidade positiva, por aqui…até que ela sumiu!

Arquivo Pessoal

O ano era 2016, eu estava “casada” há 3 anos com o pai do meu filho. Quando eu literalmente FUGI!

O “k” que era meu melhor amigo desde os 17, quando começamos a namorar por insistência dele. Namoro EAD. Eu morava no interior do Paraná. Ele em SP capital. Entre indas, pausas e vindas, em 2013 nos reencontramos. Transamos e…camisinha furou, dia D falhou, pilula nem adiantou. Eu engravidei! Na euforia juvenil, juramos ser amor e que ficaríamos juntos. Começava ali, teoricamente, nossa própria família. Aquele que deveria, por regra, ser diferente da qual viemos, e que tanto nos machucou.

*2013, gravidez, foi tanta loucura…que renderia uma hitória a parte. Mas fato é…

Em 2014, Lorenzo nasceu. Eu que até então ficara na casa de minha mãe, deveria ir morar com o pai do meu filho, meu marido de contrato assinado. Até ali, quase 1 ano sem vê-lo, entre brigas e discussões via telefone (redes sociais engatinhavam), nossa conexão e comunicação estava péssima…eu deveria ter me atentado aos detalhes, do início do fim ali!

A casa que ele deveria estar providenciando para nós, em SP, não estava nem de longe “começada”. Mas por SORTE do destino, ele recebeu uma proposta de trabalho no Rio de Janeiro. O que justificaria bem, o “OPS…Só temos esse colchão…EMPRESTADO!”. E eu que só ficava sabendo de tudo, em cima da hora, não tinha mais jeito, a não ser ter RESILIÊNCIA, ou ser tachada de “garota mimada”, por querer/esperar o mínimo dele, quando-o teve 1 ano para se organizar a respeito.

Enfim…mimada era eu! E o plano de saúde do recém-nascido sem pagar desde que nascera, há 3 meses. Mimada era eu, numa casa “cedida” com alguns móveis emprestados, onde passava dia e noite sozinha, cuidado do nosso bebê. Mimada era eu, que queria ajuda na hora de dar banho no Lorenzo, porque já não aguentava mais a dor nas costas, de ter que ser a única a cuidar do bebê. Mimada era eu, que tinha horário limitado, por ele, para acessar a internet, pra não interferir no sinal dele. Mimada era eu, cuja o maior entretenimento, quando o bebê dormia era LAVAR ROUPA!

6 meses, praticamente sozinha, nesta imensa casa “emprestada”, pelo investidor, da start up, na qual ele foi trabalhar no Rio. Começou a chegar novos hóspedes nessa casa. Oriundos de outros projetos, deste tal investidor, e que também vieram de outros lugares fora do Rio. Portanto, co-habitariam esta casa conosco. (Obrigada Universo!).

Arquivo pessoal

Ali eu tive meu primeiro choque! De que eu não tava louca, e que aquele cara me tratava mau pra caralho! Que ele trabalhar e pagar as contas era o mínimo, se eu estava em casa nutrindo a vida que escolhemos trazer juntos ao mundo. Mas eu tbm não queria me “vitimizar” no meu “relacionamento merda”, eu ainda caia muito no erro de escolher o que ele dizia ser verdade. Mesmo quando depois de um surto, por discordar dele, fui agredida e enforcada, por muito pouco. Mas até ali, ele me fez acreditar que a culpa era minha, e temer contar para alguém. Pois eu não tinha o direito de reclamar meu cansaço, e solidão no puerpério. Ele estava trabalhando, noite, dia e noite.

Entre muito incenso, meditação, alimentação vegana (semi-forçada por ele) e aceitação de karma. Eu sempre me cegava novamente, movida pela positividade toxica, que era a nossa nova religião. Tudo na tentativa de resgatar a fé na nossa família.

Em 2015 ele saiu dessa Startup. Entrou pra uma empresa de escala global. E foi demitido ainda na experiência. A partir dali, nos vimos obrigados a voltar para SP. E ele realmente surtou. Ou parou de fingir sanidade de fato!

Mas de fato, em baixo da asa da família dele, aonde mamãe não admitia o filho como sendo um bossal, passando pano pra cada, tapa, xingamento, ameaça e tortura psicológica que ele me desferia. Minha vida realmente virou um inferno! E não tinha incenso que ajudasse.

Embora um grande babaca comigo desde o início (e de forma decrescente, ao ponto de eu me acostumar, a ceder mais, e pouco a pouco parar de sentir) ele era bom pro nosso filho. Só por isso eu não sumi no primeiro tapa. Eu não queria desistir da família. Eu queria que ele tivesse o pai-provedor e a mãe-presente que eu não tive. Eu queria meu filho brincando naquele imenso quintal, e tomando café da tarde dia sim na Biza Maria, dia não na Biza Laza. Eu queria aquela família grande, e por mais e por tudo, unida que ele detinha. Eu queria, eu aguentei muito, eu aguentei demais, em nome da família.

Escrever nesse blog, tão empoderador, outrora, se tornou dolorido, conforme fui acordando pra minha realidade. Ele dizia “Você escreve demais sobre feminismo, dai começa a se achar vitima de tudo!”. De fato, era um baita paradoxo, escrever “COMO IDENTIFICAR UM RELACIONAMENTO ABUSIVO” nos grupos do facebook, e dar check em cada ponto da lista, com meu marido, mimado e abusivo.

Mas o ciclo é tão sutil! Num dia ele te apoia nas suas dores de infância, sobre sua família (porque antes de tudo ele foi seu amigo, ele conhece suas dores), ele jura te proteger deles, te afasta. Quebra seu notebook, seu celular. Te torna incomunicável, e te diz “Você não vai voltar pra lá né!?Ninguém se importa com vc lá”, e te acolhe. No outro dia “Ah…bem que eles me disseram que vc era difícil de lidar”…e te cria uma nova cicatriz.

Das partes mais doloridas, era ele surtar, começar uma briga, e tomar meu filho de mim. Muitas vezes levava até a mãe dele, e voltava…como um leão que avistou a presa, mas da um tempo pra ela correr, e depois vaia traz com gana de sangue. Mas pra mãe dele a problemática era eu né. Que caia na briga com um homem, “brigar com homem, é pedir pra apanhar” não me esqueço dessa frase.

Quando eu dizia que aquilo era errado e que iria denunciar ele, só ouvia “ Se vc aceitou isso até agora, e denunciar, vai perder a guarda. Nem eu nem vc fica com a criança! Você quer que a loca da tua mãe fique com ele?”

Um dia juntei toda minha coragem, apoiada por uma grande amiga, online, que aos poucos me acolheu, e com quem, aos poucos, acima da vergonha do que eu passada, compartilhei o que vivia com aquele marido. Juntei forças, e numa das visitas pediátricas no postinho, com meu filho, conversei com a assistente social. Que me encaminhou a uma casa de apoio psicológico e jurídica, para mulheres em situação de Violência domestica.

Vesti o personagem que a mãe dele acredita! A louca era eu! Disse que ia na psicologa, assim tinha passe livre dele e da mãe dele, para isso. Assim eu descobri na prática, as mentiras que ele me contava, sobre perder a guarda do meu filho, por não ter emprego (ele não me deixava trabalhar e boicotava minhas entrevistas de emprego), descobri, que eu poderia sim, pegar meu filho para viajar, sem a assinatura dele e então me afastar de vez, voltando pra casa da minha mãe, sem ter necessariamente a “permissão dele”, pra levar meu filho, comigo. Fui instruída a registrar ao menos um boletim, da última agressão*, o que me ajudou depois a justificar toda a falta de documento, já que apenas, fui buscar meu filho na escolinha, em um dia normal…e nunca mais voltei.

*O dia da fulga em sí, tbm rende um Cápitulo proprio…Principalmente como a policia é esdruxula, mais do que mau treinada, e sim desumana no tratamento com vitima de violência…ZERO acolhimento, até quando atendida por mulheres, em delegacias especializadas! Mas essa história vou deixar para a proxima.

Em 12/12/2016, eu pisei novamente em Cascavel-PR, minha cidade natal. Minha mãe me recepcionou, com o primeiro abraço apertado em anos ( e o único honestamente). Não vou mentir que os próximos anos foram flores, e vivi feliz para sempre. Não! Foram 2 anos com roupas usadas, trabalhando em qualquer coisa pra ganhar um salário mínimo, do mínimo, pra comprar leite e ajudar minha mãe nas contas de casa. Mas aos pouquinhos mesmo, fui renascendo pra mim, e pelo Lorenzo. Passei numa facul, com bolsa do Prouni, este ano me formo. Tenho um bom emprego, numa causa boa e com pessoas em quem acredito, e que até me garante plano de saúde. Que bem uso, indo ao Psicologo, nos últimos 2 anos, pra curar estas minhas questões.

A vida não tá perfeita, acho que utopia esperar isso. Mas de fato, hoje visto meus próprios sapatos (literalmente) e com sorte e organização financeira, fim de ano 2021, vou pra uma casa nova com o Lo, e um cara muito legal com quem vou me casar, e viver uma nova fase da minha vida. E aprendi que com ou sem homem, eu sou a protagonista da minha vida. E não aceito mais ser tratada de qualquer jeito! Nunca mais.

Arquivo Pessoal

OBS: Hoje tenho a guarda unilateral. o Sr “k”, nunca mandou 1real de pensão. Mas é importante realizar este processo. Porque no dia que ele resolver chegar dando uma de pai, coff…coff…primeiro ele vai ter um boleto de no minímo 4anos de pensão nunca pagas e contando…rs

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