Sobre pelos e cabelos ❤

Maternagem Descalça
5 min readMar 9, 2016

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Me lembro bem da primeira vez que me deparei perplexa com o tufinho de pelos que cresceu, sabe se lá como, em baixo do meu braço!

Fernanda de Oliveira I Fotografia — Projeto InNatura ❤

Eu tinha uns 11 ou 12 anos, estava na quarta ou quinta série, e literalmente entrei em choque com aquilo. Será que era normal? Será que eu tinha algum problema? comecei a chorar em pânico no banheiro, afinal nunca tinha visto mulheres com pelos ali, muito menos garotas!

Fiquei com medo de dizer para minha mãe. Ela era sempre tão estressada e eu não queria problemas diante daquele constrangimento, portanto passei a usar camiseta, e erguer menos os braços, até que um dia, a filha de uma amiga da minha mãe (uma garotinha de 9 anos) viu o tufinho de pelos na minha axila, enquanto brincávamos e disse, “Olha você tem pelo em baixo do braço, a minha mãe também têm as vezes, mas ela tira!” Então prontamente (e desesperadamente) perguntei “É!? E como se tira ISTO?” Ela respondeu “Com gilette, uéh!”. Corremos para o banheiro, peguei escondido a gilette da minha mãe, Tirei a blusa, estiquei o braço para cima e perguntei para a menina “E agora?” Ela disse “É só passar! Mas com cuidado para não se CORTAR!!!”. Fiquei apavorada como assim, me cortar? Desisti! vesti a blusa e guardei a gilette. Patético mas fiquei com medo de morrer! Porque ouvi dizerem na TV, que adolescentes se matava com gilette! Como eu não sabia, mas já era o suficiente para temer as lâminas.

Passaram-se 2 semanas até que eu visse a menina novamente, e que de imediato já foi logo me perguntando “E aí, raspou?”, “Não!” admiti frustrada. Então corremos para o banheiro da mãe dela, aonde ela me passou a gilette e disse, “ Eu vi que a minha mãe passa sabonete e agua para passar, assim fica mais fácil, segundo ela” Criei coragem, e fiz! Não morri! Mas me senti, estranhamente, digna novamente, sem o peso da vergonha, ao erguer meus braços, e a alegria de poder voltar a usar blusas cavadas novamente. Foi só felicidade!

Um tempo depois vi minha vizinha (da mesma idade que eu) com as pernas cortadas, perguntei qual era o motivo, e ela me disse que havia tirado os pelos, porque era muito nojento! Coisa de menino e não de menina. Corri para dentro de casa e entre cortes e hematomas, na pratica fui aprendendo que ser mulher era de fato uma porcaria.! Eu não entendia porque raios tinha que viver sofrendo em nome do padrão do bom senso. Na época eu tinha uns 13 ou 14 anos.

Na época do colegial, eu vi uma colega de classe, que era ruiva, sendo motivo de chacota dos meninos da escola, na hora do intervalo; eles viram os pelos da axila dela meio crescidinhos e começaram a zoa-la por isso; questionando-a através do velho jargão dos Imbecis “E aí, o tapete combina com a cortina!?” Me senti péssima por ela, por ela ter sido pega, em seu processo hormonal, algo tão natural daquela fase. Mas me sentia ainda pior por sermos mulheres e termos que sofrer com estes pesos estéticos injustos. Afinal pelos no menino equivale ao ‘troféu do Machão’, como dizem “Tá virando homem”. Já quando nas meninas é “Eca! Que nojenta! Porca relaxada! (e etc.).

“ …As mulheres não deveriam raspar as axilas. Pois além de facilitar a liberação de hormônios, age como um tipo de “anti-fricção natural”. — Karlla Patrícia — Bióloga Via: Diário da biologia

Entre cera quente, cera fria, giletter, depilador elétrico, já sofri muito tentando atender o padrão imposto, até a chegada do Lorenzo. Bebês crescem rápido e logo o tempo se esvai entre os dedos, mas com isto eu fui (e estou) aprendendo aos poucos a mágica de me perceber, no “deixe estar!”.

No início, quando o Lolo ainda era um bebê, eu me organizava para os dias de tortura com o depilador elétrico, depilava geral! Mas depois de um tempo aprendi na prática que o tempo era melhor gasto descansando, afinal o puerpério não é nada fácil! Mas de um jeito difícil nos força a crescer em muitos âmbitos; como quando ao deixar os pelos crescerem, fui me perguntar sobre como eu me sentia (e ainda sinto) a respeito deles, e não mais o que o fulano e a ciclana do lado devem estar pensando sobre eu erguer os braços para amarrar o cabelo com os braços daquele jeito! Ou sobre se eu deveria ou não estar de short, saia, vertido sem ter depilado as pernas antes!

Umas das coisas mais lindas e fantásticas que eu venho percebendo desde que tomei como meta de aprendizagem, vivenciar o natural é que as associações por cheiro são muito mais empregadas e reforçadas pela indústria do que pela pratica orgânica do se perceber. Por exemplo, faz mais de 1 ano que eu simplesmente não uso desodorante, e no início o cheirinho (o famoso CC) era mais forte, e com isto eu tinha que lavar a área das axilas mais vezes ao dia. Acredito que devido os tantos anos em dependência de tanta química, o parte do processo natural de desintoxicação da própria derme, estava em exalar que o velho estava morrendo para vir o novo. Literalmente!

Atualmente eu sigo usando umas receitas mais naturebas, na hora de sair, mas em suma prefiro ir lavando quando acho necessário. Na internet e em grupos do facebook também dá para encontrar várias dicas caseiras e naturebas para adotar como desodorante no dia-a-dia.

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Se tem uma coisa que me deixa muito feliz, é ver a mulherada na rua se assumindo, ao seu tempo, e a sua medida, na própria pele! Tanto quanto aos seus pelos, como quanto ao cabelo, manequim, etc. Acima de tudo, se sentindo confortável com isto, confortável consigo mesma, para depilar ou deixar crescer porque quer e não porque é imposto pela indústria defasada da beleza. Não existe beleza maior do que o Natural de cada ser, sendo o que se é nas dores e delicias de apenas ser, e se permitir sentir.

Seja apenas o que você é! Depilada ou peluda, use a roupa que você quer, que ira lhe faz sentir-se bem com você mesma. Porque a sua opinião sobre si, é a unica que importa ❤ Namastê

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Fernanda de Oliveira I Fotografia

Projeto: In Natura

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